Por Dani Vas
Estamos no mês de junho, mês do orgulho LGBT+. Esse é um ponto de partida importante para esse texto, pois muito se fala sobre o que é ser LGBT e muito se fala sobre a história moderna do movimento, com maior ou menor grau de disputa. Mas o que não se fala sobre é como surgiu a ideia de orgulho LGBT+, bem como quem foi responsável pela primeira Parada LGBT+. Existe um nome, muito central na nossa luta, que escapa da boca das pessoas, e que é tão importante quanto referências como Marsha P. Johnson ou Sylvia Rivera.
Estamos falando de Brenda Howard.
Brenda foi uma mulher cisgênero, bissexual, adepta ao poliamor e ao BDSM, judia, e a pessoa que criou a Gay Pride Week e, um ano depois dos acontecimentos em Stonewall, criou a Christopher Street Liberation Day Parade, em São Francisco, conhecida como a primeira Parada do Orgulho LGBT+ do mundo. Brenda foi uma das pessoas que ajudou a construir a Frente de Libertação Gay e a Aliança dos Ativistas Gays, dois dos principais movimentos pró pessoas LGBT+ da época. É responsável, junto com Donny The Punk, também bissexual, e L. Craig Schoonmaker, um gay, por popularizar a palavra Orgulho (Pride, em inglês) às festividades e aos protestos que até hoje seguem fortes no movimento. Brenda também esteve na criação do New York Area Bisexual Network, importante organização dos direitos bissexuais, entre outros grupos relevantes.
E aqui começo os questionamentos. Como é que alguém como Brenda Howards, tão central e importante no movimento LGBT+, tão a frente de seu tempo, é tão bruscamente apagada da história? A resposta é bastante simples: bifobia. O apagamento bi é tão poderoso, tão central para a segurança das identidades monossexuais (gays, lésbicas e héteros), que é preferível fingir que a Parada LGBT+ sempre esteve aí, sem rosto e sem origem, do que creditá-la a uma bissexual. A palavra Orgulho é tão difundida na boca de todos, que não há problema em esquecer que dois bissexuais estavam entre os responsáveis pela sua popularização.
Ser paulistano é poder experimentar todo ano, pelo menos naqueles que não acontecem uma pandemia, a maior parada LGBT+ do mundo. E, mesmo assim, é saber que existe trio elétrico para gays, para lésbicas, para trans, para BDSM, para familiares, mas não ter para pessoas bissexuais. É ouvir que Marielle Franco era uma mulher lésbica, sendo que ela era assumidamente bi. Desde 2018, foram os próprios militantes que improvisaram um cordão para montar o bloco oficial BiPanPoli, esmagado entre dois trios, e super esvaziado de pessoas bissexuais. Não só não temos apoio, como também não temos nem divulgação nem da própria organização da Parada.
É esse o legado que queremos herdar de Brenda Howard? Ou então de Marsha e Sylvia, também bissexuais?
Se queremos fazer honra à Stonewall e todos os frutos que colhemos e conquistamos nos anos seguintes, não podemos deixar bissexuais de fora. Brenda já estava lá, na linha de frente, construindo uma militância forte e que impactou a vida de gerações e gerações de pessoas. Nós já estávamos lá quando tudo começou e continuaremos por muito mais tempo ainda.
A Parada não é só gay, até porque ela nunca foi só gay.
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