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  • Foto do escritorKaique Oliveira Fontes

Carta Aberta - 28/06

Atualizado: 15 de out. de 2020

Por Kaique Fontes.


Hoje é dia 28 de Junho, dia do Orgulho LGBTQIAP+. Durante todo o mês, nós do Coletivo Bi-Sides trouxemos conteúdo pertinente a participação de pessoas bissexuais no movimento de ativismo e realizamos uma colaboração com o coletivo AbrAce. Foi um mês muito gostoso de estruturar, do ponto de vista de membro do coletivo e bastante significativo para alguns de nós por conta dos tópicos que abordamos. Apesar da satisfação de poder contribuir com a disseminação de informação produzida por pessoas bissexuais para pessoas bissexuais e possibilitar a visibilidade de nossas pautas, confesso que agora, ao fim desse mês, o sentimento geral é de desgosto.


Permitam que eu explique o motivo do sentimento ser desgosto, e não a sensação geral de orgulho.


O mês do orgulho pra pessoas bissexuais é banhado a muita luta. Stonewall teve participação E LIDERANÇA de pessoas bissexuais, a primeira parada do orgulho que seguiu os protestos foi organizada por uma mulher bissexual. O conceito que usamos hoje como ORGULHO/PRIDE veio dessa mesma mulher bissexual. Não é novidade pra quem nos acompanha ou tem o mínimo de respeito a história do movimento, mas temos aí os fatos. O mês do orgulho potencializa em 100% o apagamento de pessoas bissexuais quando se tem um senso comum falso e ahistorico de que bissexuais nunca fizeram nada e que o mês de junho serve apenas como um mês pra lembrar os grandes feitos da comunidade GAY.


Notem que qualquer publicação nossa, mesmo que focada em questões bissexuais, incluem a sigla LGBTQIAP+. Quando estamos falando de comunidade, lembramos sim das construções e colaborações conjuntas entre as comunidades gay, lésbica, trans, intersexo, assexual e arromantica, pan e polisexual, queer. As publicações de maior alcance sobre o mês do orgulho também incluem a sigla, mas apagam muitas das identidades que a compõe. É comum participar de eventos e festas onde o B aparece na sigla, mas nunca é citado. O mês do orgulho como é celebrado por outras comunidades não nos considera e não nos inclui.


O sentimento de desgosto vem do fato de que toda nossa energia se volta para que pessoas bissexuais sejam minimamente representadas, de maneira que a gente também tenha espaço e motivo pra celebrar, mas isso é feito da maneira mais desgastante possível. Há todo um resgate necessário de identidades, a gente precisa LEMBRAR para o restante da comunidade que a gente faz parte dela, que nomes de pessoas bissexuais não deviam ser incluídos em categorias gays ou lésbicas. O nosso trabalho e esforço está preso numa bolha separada do restante da comunidade pois eles nos rejeitam, se recusam a nos ouvir. Dentro do mês que supostamente seria o ideal para que celebrassemos juntos os direitos conquistados e pautar novamente as lutas que ainda precisamos travar, pessoas bissexuais regularmente se sentem separadas e afastadas de espaços que por direito, também é nosso.


Nosso discurso é usado contra nós, de maneira que nos fazem parecer os vilões, os separatistas, a comunidade [bi] que não participa e se recusa a integrar. O privilégio monossexual deles nos permite um certo espaço regulado, onde nós só podemos acessar de acordo com as condições preestabelecidas, nunca da maneira que entendemos ser melhor para nós.


Bissexuais seguem orgulhosos e fortes em todos os outros meses do ano pois temos que reivindicar nosso orgulho a cada instante apenas por nos identificarmos bissexuais. O desgosto vem do descaso de uma comunidade que nos usa na sigla e não nos inclui na luta. Vem do cansaço de gritar com quem não quer ouvir, do absurdo que é o fato de ter que brigar com quem deveria se orgulhar junto conosco.


O mês do orgulho é só mais um símbolo da luta de gente bissexual que vocês da comunidade se esforçam pra apagar e não conseguem. Essa história que vocês julgam ser de vocês esteve nas nossas mãos por muito tempo e advinha? Vai continuar. Em junho vocês tem a desculpa de compilar seus privilégios e conquistas esquecendo das nossas, mas fiquem tranquilos pois não há problema. Apesar do desgosto que vocês nos fazem sentir, a maior satisfação é ouvir os gritos de orgulho e poder responder "De nada, nós te demos isso". E não se preocupem, nós não vamos deixá-los esquecer. Nunca.



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