O Dia Internacional da Mulher foi proposto pela primeira vez, há 112 anos atrás, pela professora, jornalista e militante marxista alemã Clara Josephine Zetkin, durante a II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas. A criação do marco teve por objetivo o fomento das manifestações pelo direito ao voto para as mulheres; melhoria salarial; exclusão das crianças do trabalho de fábrica; e por uma sociedade com justiça social.
No Brasil, a luta das mulheres se assemelha, pelo direito ao voto; reconhecimento da cidadania, contra o patriarcado e pelo fim da escravidão negra - viva na realidade e na mentalidade brasileira. Por essas e outras bandeiras, março é considerado o mês das mulheres, um dos períodos do ano em que conferimos visibilidade ao ativismo e à influência das mulheres por meio da ciência, da arte, da luta, da literatura e das provocações que induzem um pensamento crítico sobre sua realidade.
Ainda assim, pautas como raça e sexualidade carecem de atenção e visibilidade nos movimentos de mulheres, permanecendo categorias críticas e determinantes no cotidiano de mulheres negras, indígenas, quilombolas, ciganas; assim como de mulheres bissexuais, trans e lésbicas (realidade também comum à muitas pessoas não-binárias que sofrem misoginia). Infelizmente, assédio; silenciamento; violências; e violações persistem como uma realidade para a larga maioria dessas pessoas.
O feminismo, enquanto um movimento de caráter político que busca a equidade de gênero; o fim da violência; e o direito à cidadania plena, ganha força na Europa e nos EUA nas décadas de 1960 e 1970. No Brasil, em plena ditadura militar, o movimento alcança maior influência entre as mulheres letradas, de alta classe, que entram em contato com as feministas de fora do país e induzem as primeiras impressões para nossa realidade. É a partir das décadas de 1980 e 1990 que as mulheres negras brasileiras passam a produzir, de forma organizada, críticas à alienação do movimento de mulheres, brancas em sua larga maioria; principalmente à invisibilidade produzida para as intersecções de raça e de sexualidade. Assim, ainda que sobre uma busca comum, no decorrer dos anos, o feminismo se desdobrou em variadas vertentes.
Entretanto, o 8 de março (8M), Dia Internacional da Mulher, permanece enquanto uma agenda comum ao feminismo. A data ressalta a importância do reconhecimento das vozes de mulheres em toda sua diversidade para que sua condição de silenciamento e disparidade social se transformem em conscientização sobre um sistema colonial opressor. O desenvolvimento de uma consciência coletiva em relação ao racismo; à sexualidade; ao gênero; à classe; e aos padrões normativos impostos às mulheres.
Em referência ao 8M, o coletivo BiSides apresenta abaixo três nomes de mulheres bissexuais que influenciam e incidem cotidianamente na luta e pelo direito pleno das mulheres:
Referências bis na luta das mulheres:
Frida Kahlo (1907-1954);
Uma das mulheres mexicanas mais marcantes da história. Comunista e revolucionária, teve uma vida marcada por superações que a transformaram em uma das maiores pintoras do século XX. Muito conhecida por seus auto retratos, Frida é definida por alguns como uma artista surrealista. Acerca desta afirmação, a pintora costumava recusar a definição, afirmando que seu trabalho refletia muito mais sua realidade do que seus sonhos: “Eu sou minha própria musa, a sujeita que mais conheço”. Considerada uma mulher à frente de seu tempo, suas obras retratavam, para além de suas dores, pautas como casamento, maternidade, bissexualidade e aborto. Sua arte foi reconhecida internacionalmente após seu falecimento, tendo a peça “Moisés” ganhado um prêmio concedido pelo Ministério da Cultura do México.
Marielle Franco (1979-2018);
Socióloga de formação, mestra em Administração Pública, foi eleita Vereadora da Câmara Municipal do Rio de Janeiro com 46.502 votos, ocupando também a cadeira de Presidenta da Comissão da Mulher da Câmara. Foi uma importante mulher, negra, bissexual, mãe, filha, irmã, esposa e cria da favela da Maré. “Não sou livre enquanto outra mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas (...) O lugar de uma mulher, mulher negra, bissexual - agora estou casada com uma mulher, mas tenho uma fila - dessas muitas representações a gente vai aprendendo, conhecendo mais.”. No dia 14 de março de 2018 foi brutalmente assassinada em um atentado político ao carro em que estava. Foram 13 tiros alvejados contra o veículo, matando também o motorista Anderson Pedro Gomes. Até hoje, seu caso permanece em aberto, assim como a pergunta: Quem mandou matar Marielle?
Erica Malunguinho (1981);
Educadora, artista plástica, mestra em Estética e História da Arte pela USP e atual deputada estadual pelo estado de São Paulo, Erica entrou para a história como a primeira mulher transexual da Assembleia Legislativa de São Paulo. É uma expoente do movimento negro no Brasil, bem como das pautas mobilizadas pela população LGBTQIA+. Atuando também por intermédio do Aparelha Luzia, quilombo urbano fundado por ela, articula política com intervenções culturais. Em suas redes sociais, Erica Malunguinho afirma e defende que "a bissexualidade não é uma fase ou indecisão (...), também não se expressa em um 'percentual de atração', referente ao quanto a pessoa se atrai pelo mesmo gênero ou por algum outro. Além de serem excluídas dos 'espaços heteros', essas manifestações de bifobia também ocorrem na comunidade LGBTQIA+, gerando uma dupla discriminação para a população bi, o que é lamentável". Reafirmando assim, que sua luta social, cultural e política segue em favor do reconhecimento e do respeito à visibilidade bissexual e de todas as mulheres.
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