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“Metade gay e metade hétero”? Não, obrigado

É recorrente que a bissexualidade seja estigmatizada de várias formas explicitamente ofensivas: somos indecisos, confusos, promíscuos, vamos “trocar” nossos parceiros à menor sombra de uma genitália (pois, afinal, é a isso que parecem querer resumir os seres humanos, e nos encaixamos perfeitamente em seu estereótipo de caçadores incansáveis de sexo).


Inclusive, que atire a primeira pedra quem nunca comentou sobre sua bissexualidade e foi chamado para um ménage à trois, não é mesmo? Ser hipersexualizado é uma experiência divertidíssima — que o digam as mulheres lésbicas e bissexuais, fetichizadas até dizer chega. No entanto, tenho certeza que isto será muito bem delineado por uma companheira do site algum dia, com mais propriedade e legitimidade.

Hoje eu quero falar sobre uma forma de nos representar que incomoda de maneira muito menos evidente: a impressão de que estamos divididos entre dois polos, como se houvesse algum conflito no fato de nos atrairmos por mais de um gênero.


Vamos deixar bem claro: eu não sou metade gay, metade hétero. Eu sou bissexual, tenho uma identidade que me abrange de forma bastante contundente e representa a fluidez da minha sexualidade em suas mais variadas intensidades e expressões.


Eu sou completo.


Não existe nenhuma “dualidade”, nenhum simbolismo inferido nisto sem que eu queira — eu, e mais ninguém — atribuí-lo, e ter pessoas monossexuais¹ impondo as mais variadas impressões sobre o que eu sou ou deveria ser é também uma violência.


Além disso, a categorização da bissexualidade como um duo deixa de fora uma variedade de gêneros que não se encaixam no binário homem/mulher e corroboram esse tipo de silenciamento. A sociedade é, sim, transfóbica e binarista²; a bissexualidade por definição, embora, não o é, e empurrar este preconceito sobre o termo é desonesto.


Tendo sido inicialmente imposto a nós pelo discurso médico (assim como as palavras homossexualidade e transexualidade, que foram largando os “ismos” e estão em constante reapropriação para retirar a conotação negativa), o movimento bissexual ressignificou o termo para que se tornasse inclusivo através do tempo. Sendo assim, “bi”, em vez de “homens e mulheres”, equivale a “atração por meu gênero e outros gêneros”. É uma insensibilidade pintar a bissexualidade como inerentemente binarista considerando-se que muitas pessoas trans não-binárias assim se identificam e já escreveram sobre isso.


Por último, mas não menos importante, queria dizer com todas as palavras que nos é permitido ter dúvidas. Nós somos pessoas, e como tal temos as mais variadas experiências. Não existe pecado nenhum na confusão.


Não existe problema na procura por sua verdade, seja ela qual for.


Nós não estamos aqui para atender às expectativas de ninguém.

¹ Monossexuais são pessoas que se atraem (sexual e/ou afetivamente) por apenas um gênero.

² Transfobia é a aversão, ódio, preconceito e discriminação a pessoas transexuais e transgêneras. Binarismo é a noção de que todas as pessoas são ou homens, ou mulheres, excluindo e oprimindo diversas identidades no processo.

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